1)

À humanidade é dada a graça de poder conhecer Deus que se revela e envia o próprio Filho Unigênito Cristo Jesus com o dom do Espírito Santo.
É-nos dada outra graça, de conhecer a Virgem Maria que, por ter gerado Jesus pelo poder do Espírito Santo, chamamos e é realmente Mãe de Deus.
A este título, único na história, associamos outro título único também: Imaculada Conceição, por ser Ela concebida sem pecado original e isente de todo outro pecado, em previsão dos meritos de Cristo.
O Concilio Vaticano II nos apresenta a função da mãe do Salvador na economia da salvação afirmando que "Ela distingue-se entre aqueles humildes e aqueles pobres do Senhor que com confiança esperam e recebem por ele a salvação. E em fim com ela (...) instaura-se a nova 'economia'" (Lumen Gentium, 55).
À humanidade pecadora é dada uma graça especial, de ter uma criatura, isente de pecado, que alivia a ignomínia do pecado original porque chamada a ser a mãe do Senhor Jesus, abrindo o caminho para a salvação que nos será dada pelo Filho, que nos resgatará totalmente do pecado original.
O Concilio Vaticano II coloca Maria na economia salvifica afirmando: "Justamente por isso os santos Padres consideram que Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas que cooperou para a salvação do homem com livre fé e obediência"(Lumen Gentium, 56).
O Povo de Deus celebra Maria por esta graça única por Ela recebida, e pela plenitude da Graça que somente a Ela é dada como nos é revelado pelas palavras do anjo Gabriel: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28).
Pelo sensus fidei – o sentido da fé – e a graça do Espírito Santo, que garante contra o erro e o afasta, o Povo de Deus desde o inicio proclamou que Maria é concebida sem pecado original e é a Imaculada Conceição, como indiretamente é confirmado pelas palavras do anjo Gabriel.
È pela fé do Povo de Deus e pela Palavra que nos é revelada em Gêneses 3,15:
“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”,
que a Igreja celebra a Virgem Maria como a Imaculada Conceição, dando, pelo dogma proclamado pelo papa Beato Pio IX no dia 8 de dezembro do ano 1854, a confirmação de quanto nos séculos era considerado verdadeiro e digno de ser professado como fé.
Os santos Padres com a própria doutrina confirmam quanto a fé do Povo de Deus proclama, como bem escreve santo Irineu que Maria
"com a sua obediência se tornou causa de salvação par si e para todo o gênero humano" e "o nó da desobediência de Eva teve sua solução com a obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou com a sua incredulidade, a virgem Maria desligou com a sua fé" (Adv. Haer. III, 22,4: PG 7,959).
2)
O que nós experimentamos pela fé no dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora é a santidade da Mãe de Jesus que deve refletir-se na nossa santidade.
A Imaculada Conceição de Nossa Senhora explica por sua vez o concebimento virginal de Maria que conceberá e dará a luz um filho ao qual será dado o nome de Jesus (cf. Lc 1,31).
Um corpo totalmente isente de pecado gerará pelo poder do Espírito Santo o corpo sem pecado de Jesus, porque não era admissível que um corpo manchado do pecado original gerasse um corpo sem pecado.
Na Imaculada Conceição de Maria a humanidade encontra a própria condição originária sem pecado, a inocência que é o supremo desejo humano, a beleza da Criação e da criatura em particular e ter desta maneira um modelo para a santidade.
3)
Celebrando a Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhor é necessário refletir sobre a nossa espiritualidade, na qual deve ser presente a Virgem Maria.
Considerada a primazia de uma espiritualidade fundamentada na Sagrada Escritura e na Liturgia, não pode ser considerada secundária uma espiritualidade orientada para a Virgem Maria en quanto Mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, Mãe de Deus e nossa mãe.
O Card. Martini, na epoca arcebispo de Milão, falando aos presbiteros ambrosianos sobre os perigos de "apagar os impetos do coração" - "gli slanci del cuore" - próprios da devoção a Maria, indicava a exigência de uma espiritualidade mariana, dos "impetos afetuosos da oração, que plenificam a vida" (Da quel momento La prese con sé, Editora Ancora).
4)
Celebrando a Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, é oportuno lembrar as aparições da Virgem Maria a Santa Bernadette, quando responde não dizendo: "Eu sou uma concebida sem pecado", mas afirmando: "Eu sou a Imaculada Conceição".
Desta maneira a Virgem Maria confirma a unicidade do privilegio e da graça recebida, por não ter a mancha do pecado original (cfr. Crosignani G. C.M., Io sono l´Immacolata Concezione, in "Divus Thomas" (PL) 57 (1954), p. 419).
Podemos ver nas palavras da Virgem Maria: "Eu sou a Imaculada Conceição", o absoluto, a nível humano, de quanto uma criatura possa afirmar de si mesma em relação a uma graça que lhe é dada.
Este absoluto, único numa criatura, feitas as devidas comparações, encontramos somente em Deus quando se revela: "Deus disse a Moisés: "Sou o que sou". Assim dirás aos israelitas: "Eu sou" me envia a vós" (Ex 3,14) e em Jesus quando responde a Pilatos: "Tu o dizes: eu sou rei" (Jo 18,37).
Padre Ausilio Chessa
