quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ANO DA FÉ, VIDA ESPIRITUAL E SANTIDADE

 

A ESPIRITUALIDADE

Segundo São Boaventura a vida espiritual é uma imediata participação em nós da mesma vida de Deus, no tempo através da graça, na eternidade através da glória.

Nela coloca três atos:

1)

“a purificação (tirar o pecado) que conduz à paz;

2) a iluminação (imitar Cristo) que leva à verdade e

3) a perfeição (receber o Esposo) à caridade” (De tríplice via);

respectivamente, na oração: os iniciantes choram o pecado, os que traem proveito imploram a graça, os perfeitos adoram a Deus (id.).

São Boaventura continua afirmando que todos os cristãos são chamados para a vida mística.

A vida espiritual é o agir e o ser para progredir na espiritualidade.

Esta é a perfeição da vida segundo a graça de Deus, mais do que a nossa natureza.

S. Gregório de Nissa afirma: “Aquele que vai subindo jamais cessa de progredir de começo em começo, por começos que não tem fim. Aquele que sobe jamais cessa de desejar aquilo que já conhece” (Hom. In Cant. 8, PG 44,941).

Comporta um relacionamento afetivo com Deus, segundo o mandamento do amor: “Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22,37-40; cf. Dt 6,5; Lv 19,18).

O amor é a regra e o fim da vida espiritual, conforme o significado dos dois termos vida e espírito.

Vida que é a totalidade do humano e espírito como fim e perfeição que deve caracterizá-la.

A Palavra de Deus é fonte e regra da espiritualidade: o conformar-se à vontade de Deus e o desejo d´Ele supera cada exigência humana de religiosidade ou espiritualidade que seja simples e puro conhecimento (gnose).

É por esta Palavra que necessariamente há uma interação entre espiritualidade e santidade.

A nossa experiência espiritual não é sobre Deus, mas experiência de Deus.

Neste sentido a Carta aos Hebreus nos apresenta a fé como experiência que nós temos de Deus: “A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem” (Hb 11,1).

Neste sentido, “demonstrar” é relacionado com uma experiência.

Esta experiência de Deus é dada por uma contínua procura e por um encontro com Ele.

È uma experiência dialógica com Aquele que é três vezes Santo, e por esta razão supõe, exige e conduz para a santidade.

O fim desta experiência é a “união sempre mais íntima com Cristo” – modelo absoluto da vida espiritual - e, Nele, no mistério da Santíssima Trindade.

A vida espiritual se desenvolve seguindo o Senhor Jesus no seu itinerário por Ele marcado no Evangelho e na experiência de fé da Igreja ao longo dos séculos.

Uma vida espiritual seguindo um Cristo idealizado sem uma referência à sua humanidade seria –salvas as experiências místicas - uma “via angélica” não adequada à condição humana.

Ao contrario, uma vida espiritual que enfatize exclusivamente o Jesus histórico, seria um puro exercício de imitação humana, não teria as características de vida espiritual.

ESPIRITUALIDADE E ORAÇÃO

A afirmação do Salmo 42,2: “Minha alma tem sede de Deus” é a base da espiritualidade porque Deus é a exigência primaria do homem; não existem opções que possam substituí-Lo.

Certa maneira, a espiritualidade – a maior razão Deus – é a resposta à solidão do homem.

È o ser humano, que do seu profundo – a alma – procura um outro Ser.

Também o Salmo 62,2: “Minha carne te deseja” revela o ser humano à procura de Deus, não somente no inicio, mas ao longo de toda existência; o homo spiritualis na própria corporeidade, que não é somente matéria.

Espiritualidade sapiencial

Os sábios de Israel – na literatura sapiencial - ensinaram ao povo a não cair no pecado, em particular a idolatria, a valorizar cada realidade humana e terrestre e a assumir os compromissos éticos da caridade e da justiça, numa perspectiva ética e espiritual.

A sabedoria se conforma à graça (Sb 9; Eclo 4,12; 1Rs 3):

“Ele dá a sabedoria àqueles que vivem com piedade” (Eclo 43,17).

A oração é base da vida espiritual e a Eucaristia é “coroamento da vida espiritual” (S. Tomás de Aquino).

A SANTIDADE

A santidade é uma conseqüência da espiritualidade, mesmo sendo ligadas uma com a outra.

A vocação universal para a santidade - Deus nos chamou a “ser conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8,29) – convive com a particular: “A cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo” (Ef 4,7).

O Catecismo da Igreja Católica no fornece uma síntese da vida espiritual e afirma: “O progresso espiritual tende à união sempre mais íntima com Cristo. Esta união recebe o nome de “mística”, pois ela participa no mistério de Cristo pelos sacramentos – “os santos mistérios” – e, nele, no mistério da Santíssima Trindade, Deus nos chama a todos a esta intima união com Ele, mesmo que graças especiais ou sinais extraordinários desta vida mística sejam concedidos apenas a alguns, em vista de manifestar o dom gratuito feito a todos” (n. 2014).

Renúncia, combate espiritual, ascese, mortificação em vista da perfeição – passando pela cruz – com a graça da perseverança final (cf. Catecismo da Igreja Catolica 2015) são as coordenadas da vida espiritual para santificar-se.

Padre Ausilio Chessa

 
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