quarta-feira, 28 de novembro de 2012

AS REALIDADES ULTIMAS SÃO NECESSÁRIAS PARA A NOSSA ESPIRITUALIDADE E MORALIDADE

1)

O discurso sobre as realidades últimas – escatologia - não pode ser confinado somente ao futuro ou ao campo das hipóteses, mas abrange a totalidade da vida, tendo presente que esta desde o inicio é orientada para o futuro num devir que é a razão da existência.

Desde a Criação aparecem delineadas as realidades últimas, porque Deus fixa o destino do homem conseqüente ao pecado original: “Com o suor de tua fronte comerás o pão, até que voltes à terra, porque dela te tiraram; pois és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19).

O homem é assim um ser escatologico com a salvação oferecida depois do pecado original (cfr. Gn 3,15)

O ser humano, mais do que de presente, vive no desejo continuo de futuro e de eternidade, como bem afirma São Paulo: “Voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis” (2Cor 4,18).

Este desejo pela fé se torna certeza segundo quanto é revelado no Evangelho de São Lucas quando um dos dois malfeitores suplica Jesus moribundo: “Jesus, quando chegares ao teu reino, lembra-te de mim” (Lc 23,42) e quando Jesus responde: “Eu te asseguro que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

O fato de olhar para as “coisas invisíveis” confirma a efetiva realidade destas “coisas”, escondidas para nós que estamos na condição da precariedade e imperfeição da vida, mas ao mesmo tempo abertos pela fé e a esperança para as realidades invisíveis.

Com maior força, a Carta aos Hebreus (11,1) confirma: “A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem”.

É pela fé que nós olhamos para estas realidades últimas, não conhecendo a essência delas segundo os critérios humanos, mas segundo a Sagrada Escritura e a Tradição.

É pela fé que a moral reflete estas realidades e para elas se adéqua, porque constituem um “critério” objetivo para o nosso comportamento.

É de ter presente que o juízo moral deve cair também sob o “império” destas realidades, que de fato são uma “norma”.

2)

A Igreja primitiva reflete intensamente sobre estas realidades atribuindo grande significado, em particular aclamando: “Maràn athá-Signore, vieni”.

O livro da Didaqué coloca esta invocação no final da II “Oração eucarística” (10,6), “conferindo à celebração da Santa Ceia uma valença escatológica (Pe. Salvatore Panimolle, Marán athá=Vem, Senhor!, em Escatologia, Dizionario di Spiritualitá Bíblico-Patristica, Borla 1997, pag. 7)

A virtude teologal da esperança é por si mesma a “ponte” que nos permite de ter presentes as realidades últimas, porque a esperança da ressurreição – certa quanto é certo o nosso nascimento - (2Mc 7,9.11.14.23; Dn 12,1-2) abre o caminho para crer nos Novíssimos.

É por esta esperança que o pensar aos Novíssimos não pode comportar medo mais do que é razoável, do momento que o fim último da vida é de estar na glória de Deus, na visão beatifica com todos os Santos.

3)

São Paulo nos fornece uma trajetória de reflexão, de como deve desenvolver-se, e de fato é, a nossa experiência de fé em relação às realidades últimas.

Pensando para estas realidades últimas devemos ter um espírito livre: “Por isso, não desanimamos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia. Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável” (2Cor 4,17).

“Homem exterior” e “Homem interior” são os elementos que nos ajudam a entender qual é a nossa condição real na vida terrena: uma decadência, preparação para a morte corporal e um renovar-se, preparação para a vida eterna.

É a dimensão do sobrenatural, própria do homem, que com maior razão deve prevalecer no cristão, porque o “homem interior” é um reflexo da vida sobrenatural, de tal maneira “que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal” (2Cor 4,11).

Neste aspecto aparece “forte” a reflexão de Emil Brunner: “uma Igreja que não tem mais nada de ensinar sobre a eternidade futura, não tem mais absolutamente nada de ensinar, e é em falência” (L´eternitá come futuro e tempo presente, EDB Bolonha, 1973; em Candido Pozo, Teologia dell´aldilá, Ed. Paoline 1983, pag. 98).

Padre Ausilio Chessa

 
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