domingo, 2 de setembro de 2012

Revelação e Comunicação

O homem nasce e vive na expectativa de comunicar-se e de entrar em dialogo com o mundo. Este aspecto primordial da pessoa caracteriza o seu ser. 

Entre as numerosas definições de “comunicação”, é interessante aquela pela qual ela é “um instrumento, um meio pelo qual é possível obter efeitos e alcançar resultados” (Dizionario enciclopédico di scienze e tecniche della comunicazione, Eri-Rai, Elledici, LAS, Roma 2001): é a comunicação como “técnica” (Tekné), fator de civilização.
Neste sentido, de fato, a civilização é a “comunicação” amplificada em todos os setores do saber humano. 

Esta definição, certa maneira, pode ser aplicada na Revelação se entendemos esta na perspectiva dos efeitos: Deus que se dá a conhecer e dos resultados: a salvação do homem. 

Na Criação – por si mesma Revelação - Deus estabelece que o dialogo seja o inicio da vida na família e a base da vida social. A primeira palavra de Adão é na forma “dialógica”– mesmo se indireta -: “Esta, sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne. Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!” (Gn 2,23). 

A comunicação é uma necessidade para afirmar que existimos como os recém-nascidos que choram para demonstrar seu ser e chamar a atenção dos outros.

Dar o nome é a base de cada dialogo e comunicação: “O homem chamou sua mulher ‘Eva’ por ser a mãe de todos os viventes” (Gn 3,20). O dialogo desde o inicio existe porque duas pessoas são da mesma natureza (“carne da minha carne”) e pela complementaridade.

No inicio da história humana, a Revelação nos mostra quanto o dialogo faça parte dos acontecimentos. 

Deus na Revelação dialoga com os homens – Patriarcas, Profetas - e no dialogo se manifesta como Pessoa. O homem, por sua vez, comunica aos outros o que é objeto da Revelação para ser ulteriormente transmitido com a Tradição. 

Esta – no seu aspeto oral - é o mais poderoso canal de comunicação antes de ter o Povo guardada a Palavra como Escritura. Então, em particular o Povo do Antigo Testamento, pelo dom da memória, por sua natureza é comunicador. 

É comunicador, não de uma noticia qualquer, mas da Verdade de Deus, da qual é consciente. Em virtude desta Verdade, pelo Espírito Santo – Espírito de Verdade – guarda a Palavra-Verdade com fidelidade.

O Povo de Deus, sempre pelo Espírito, possui a consciência que Deus é o Revelador e, por sua vez, de ser um povo comunicador, que deve ser o auxiliar do Revelador.

Uma consciência viva no passado: “E trarás gravadas em teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência aos teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em tua casa, ou andando pelos caminhos, quando te deitares, ou te levantares. Tu as prenderás como sinal em tua mão e as colocarás como um sinal entre os teus olhos; tu as escreverás nas entradas da tua casa e nas portas da tua cidade” (Dt 6, 6-9). 

A consciência do dever de comunicar é ligada com a fé, sendo a comunicação uma explicitação desta. 

O anúncio-comunicação é tal em função da fé: não é possível o anuncio sem a fé.

O anúncio, no seu aspecto pessoal, mesmo sendo mais direto, é parte da comunicação.

Revelação e comunicação-anúncio fazem parte da vontade salvífica de Deus, uma por ser a Verdade em absoluto que fundamenta a fé, e a outra por ser obrigada a respeitar e guarda-la. 

A Revelação de Deus é a manifestação do seu Mistério e da sua vontade e sendo a Revelação própria de Deus, devemos dar a ela um valor absoluto.

Deus na Revelação comunica toda sua grandeza na Encarnação do Filho Unigênito.

O absoluto desta “comunicação” de Deus – desde a Criação – é quanto São Paulo escreve em 2Cor 4,6: “Porquanto Deus, que disse: Do meio das trevas brilhe a luz! (Gn 1,3), foi ele mesmo quem reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo”.

A Revelação no seu aspecto de comunicação é a graça que recebemos de participar da dignidade da glória de Deus, e de comunicar com Ele como Jesus nos ensinou dizendo como filhos “Abbá”, “Pai”. 

Fonte: Pe. Auxilio Chessa

 
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