O homem nasce e vive na expectativa de comunicar-se e de entrar em dialogo com o mundo. Este aspecto primordial da pessoa caracteriza o seu ser.
Entre as numerosas definições de “comunicação”, é interessante aquela pela qual ela é “um instrumento, um meio pelo qual é possível obter efeitos e alcançar resultados” (Dizionario enciclopédico di scienze e tecniche della comunicazione, Eri-Rai, Elledici, LAS, Roma 2001): é a comunicação como “técnica” (Tekné), fator de civilização.
Neste sentido, de fato, a civilização é a “comunicação” amplificada em todos os setores do saber humano.
Esta definição, certa maneira, pode ser aplicada na Revelação se entendemos esta na perspectiva dos efeitos: Deus que se dá a conhecer e dos resultados: a salvação do homem.
Na Criação – por si mesma Revelação - Deus estabelece que o dialogo seja o inicio da vida na família e a base da vida social. A primeira palavra de Adão é na forma “dialógica”– mesmo se indireta -: “Esta, sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne. Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!” (Gn 2,23).
A comunicação é uma necessidade para afirmar que existimos como os recém-nascidos que choram para demonstrar seu ser e chamar a atenção dos outros.
Dar o nome é a base de cada dialogo e comunicação: “O homem chamou sua mulher ‘Eva’ por ser a mãe de todos os viventes” (Gn 3,20). O dialogo desde o inicio existe porque duas pessoas são da mesma natureza (“carne da minha carne”) e pela complementaridade.
No inicio da história humana, a Revelação nos mostra quanto o dialogo faça parte dos acontecimentos.
Deus na Revelação dialoga com os homens – Patriarcas, Profetas - e no dialogo se manifesta como Pessoa. O homem, por sua vez, comunica aos outros o que é objeto da Revelação para ser ulteriormente transmitido com a Tradição.
Esta – no seu aspeto oral - é o mais poderoso canal de comunicação antes de ter o Povo guardada a Palavra como Escritura. Então, em particular o Povo do Antigo Testamento, pelo dom da memória, por sua natureza é comunicador.
É comunicador, não de uma noticia qualquer, mas da Verdade de Deus, da qual é consciente. Em virtude desta Verdade, pelo Espírito Santo – Espírito de Verdade – guarda a Palavra-Verdade com fidelidade.
O Povo de Deus, sempre pelo Espírito, possui a consciência que Deus é o Revelador e, por sua vez, de ser um povo comunicador, que deve ser o auxiliar do Revelador.
Uma consciência viva no passado: “E trarás gravadas em teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência aos teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em tua casa, ou andando pelos caminhos, quando te deitares, ou te levantares. Tu as prenderás como sinal em tua mão e as colocarás como um sinal entre os teus olhos; tu as escreverás nas entradas da tua casa e nas portas da tua cidade” (Dt 6, 6-9).
A consciência do dever de comunicar é ligada com a fé, sendo a comunicação uma explicitação desta.
O anúncio-comunicação é tal em função da fé: não é possível o anuncio sem a fé.
O anúncio, no seu aspecto pessoal, mesmo sendo mais direto, é parte da comunicação.
Revelação e comunicação-anúncio fazem parte da vontade salvífica de Deus, uma por ser a Verdade em absoluto que fundamenta a fé, e a outra por ser obrigada a respeitar e guarda-la.
A Revelação de Deus é a manifestação do seu Mistério e da sua vontade e sendo a Revelação própria de Deus, devemos dar a ela um valor absoluto.
Deus na Revelação comunica toda sua grandeza na Encarnação do Filho Unigênito.
O absoluto desta “comunicação” de Deus – desde a Criação – é quanto São Paulo escreve em 2Cor 4,6: “Porquanto Deus, que disse: Do meio das trevas brilhe a luz! (Gn 1,3), foi ele mesmo quem reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo”.
A Revelação no seu aspecto de comunicação é a graça que recebemos de participar da dignidade da glória de Deus, e de comunicar com Ele como Jesus nos ensinou dizendo como filhos “Abbá”, “Pai”.
Fonte: Pe. Auxilio Chessa
