terça-feira, 18 de setembro de 2012

Palavra de Deus na sua Dimensão Cósmica

A Palavra de Deus é fundamento de toda a realidade porque Cristo é “primogênito de toda criação” (Cl 1,15) e “todas as coisas foram criadas por meio dele e em vista dele” (Cl 1,16).

A partir da Criação é possível reconhecer a presença da Palavra eterna de Deus, pela qual “conhecemos plenamente também o significado de cada criatura” . È evidente que é um conhecimento orientado em particular modo para a transcendência. 

É a mesma Criação que nos leva para a transcendência e “a Palavra de Deus nos comunica a beleza de Deus por meio da beleza da Criação” .

Á dimensão cósmica da Palavra de Deus corresponde uma dimensão cósmica da Igreja, que não casualmente é católica. 

Nas palavras de envio de Mateus 28,19-27, Jesus dizendo “Ide para todo mundo” não põe limitações à missão dos Apóstolos. É evidente que, sendo limitado o número dos povos conhecidos, permanece aberta a possibilidade de evangelizar outros povos, como é possível ver depois. Hipoteticamente, novos lugares a ser descobertos fazem parte da missão cósmica da Igreja. 

São Boaventura afirma que “cada criatura é palavra de Deus, porque proclama Deus” . A universalidade do anuncio não é somente em relação aos povos que recebem o Evangelho, mas em relação áqueles que são chamados para anunciar, todos os batizados. 

A dimensão cósmica da Palavra de Deus é dada pela sua eternidade, sendo que o tempo e o espaço ajudam para uma compreensão desta característica.

Com a dimensão cósmica da Palavra de Deus é natural associar a dimensão cósmica da salvação. A Criação é lugar teológico na compreensão da Palavra e da Salvação. A relação entre “primeira e nova Criação” e a recapitulação em Cristo de todas as coisas dá um sentido à dimensão cósmica da Palavra e da Salvação. È bem lembrar que Teilhard de Chardin falava de uma dimensão cósmica do amor.

O fato de transcender toda a existência humana – imanente e transcendente ao mesmo tempo – conota a Palavra de Deus no seu ser cósmica. O Evangelho da Samaritana é significativo pela afirmação de Jesus sobre o culto: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jo 4,23). Jesus extingue o culto localizado num território – Jerusalém, Samaria - instituindo um culto universal, cósmico nos “adoradores em espírito e verdade”.

O Santo Padre Bento XVI – na época Card. Ratzinger – na obra Introdução ao espírito da Liturgia escreve que na religião cristã devemos “sentir o cosmo falar de Cristo” e que a Eucaristia com a transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo “quer dizer prestar um culto que abraça céu e terra”.

Na liturgia são presentes os elementos cósmicos: a pedra do altar, o fogo dos círios, a água (a humanidade) unida ao vinho, o ar para veicular o incenso .

A liturgia - unindo transcendente e imanente, divino e humano - absolve a função de representar o mistério de Deus, colocando o cosmo em relação com a pessoa, como afirmava o então Card. Ratzinger, numa “relação interior a linguagem do cosmo e a do coração humano”. 

As várias festas cristãs são relacionadas com o tempo cósmico: Páscoa (sol no sinal astral do Cordeiro); são João Batista (solstício de verão): “Ele deve crescer, eu diminuir” ; a Transfiguração quando o rosto de Cristo “brilhou como o sol” , acontece no coração do verão . 

A dimensão cósmica da palavra de Deus é solenizada na Liturgia eucarística com o Glória, o Santus e os sete pedidos do Pai Nosso que nos permitem de viver o mistério de Deus como relação de graça e salvação.

Além do aspecto glorioso da Palavra de Deus presente na Criação, temos uma experiência no aspecto sofredor quando São Paulo afirma que “sabemos que a Criação inteira geme e sofre as dores do parto até o presente” (Rm 8,22). A Criação que sofre – pelas conseqüências do pecado – vive “na esperança de ser libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8,21). 

O Santo Padre Bento XVI, na época Card. Ratzinger, nos indica qual deve ser a nossa atitude com a Criação: não se deve gritar “Explorai-a! Fazei dela o que convém! Mas, ao contrário: reconhecei nela um dom de Deus! Protegei-a e cuidai como fariam os filhos com a herança de seu pai” . 


Padre Ausilio Chessa

 
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